quinta-feira, 25 de novembro de 2010

EQUUÍVOCOS OU MÁ INTENÇÃO?

Luiz de Aquino
Escritor, membro da Academia Goiana de Letras

Senhor Editor, volto a pleitear espaço e não trago tema novo. É, sim, para continuar a catilinária sobre o descaso que o maior órgão oficial de cultura do Estado, a Agência Goiana de Cultura Pedro Ludovico, dispensa ao homem que, além de idealizar e construir esta cidade, empresta seu nome ao próprio órgão (já disse isso, em carta anterior). E por conta da carta de ontem que volto: acordei um tanto tarde, embalado pela chuva benfazeja, por conta do telefonema do escritor José Mendonça Teles.
“Vocês estão cometendo uma injustiça com o José Mendonça Teles”, disse-me ele, emocionado (costuma referir-se a si mesmo na terceira pessoa); lembrei-me que a injustiça não partiu de mim, pois até transcrevi o texto da crônica de Bariani Ortêncio em O Popular de domingo, 14.
“Pois é”, continuou ele, “eu dei a ideia e agora todo mundo é pai do cavalo”, metaforizou ele, com a cabida ironia. “Convidaram-me para ir lá ver o local, tiraram uma foto em que eu apareço e então vieram com essa história de comissão; essa comissão não existe”, definiu ele. Resumindo a pantomima: não existe, então, essa “comissão” formada por ele, José, e mais Ubirajara Galli e Bariani Ortêncio. Mas foi Bariani quem a citou e Galli silenciou-se, pelo menos até ontem, sobre o assunto.
Historiando: partiu de José Mendonça, no comecinho da década de 1990, a sugestão da estátua equestre de Pedro Ludovico, a ser colocada na Serrinha, evocando o momento em que, a cavalo e ostentando roupa própria de montaria e um solene chapéu de feltro, Pedro vislumbrou a campina. “A Serrinha, quando eu apresentei a proposta, suportaria bem um parque e a estátua, mas instalaram lá tantas antenas que o local se tornou inviável”, disse-me ele. E continuou: “Lutei por todos estes anos para ver a estátua finalizada; Neusinha (Neusa Morais) não merecia passar por tudo o que passou e morreu sem ver seu trabalho finalizado”.
José Mendonça é enfático ao isolar-se do entrevero sobre o local. Ele diz que quer ver essa estátua em lugar de distinção, em ponto digno da grandeza do homenageado, e não “num canto de praça”.
Das entrelinhas, mais me convenço de que a localização é, realmente, um capricho pessoal de Bariani, que quer mostrar, de sua sacada, poder de influência ao estabelecer aquele inaceitável ponto de sua própria paisagem.
Existem, em Goiânia, uma leva de arquitetos e urbanistas que não foram consultados – e isso indica que houve um capricho da parte do profissional que detalhou a instalação: ou ele aquiesceu às exigências do escritor ou cumpriu cegamente ordens de sua chefe; esta, com tal atitude, passou a pá de cal no conceito de que desfruta da classe intelectual local (é intelectual quem trabalha com o intelecto, o que falta até mesmo em solenes personalidades que ostentam títulos afins).
Entre os arquitetos, Renato Rocha define bem o espaço histórico de Goiânia. E ao ouvi-lo, repercute na memória a frase costumeira da imprensa, por suas várias mídias, que a todo 24 de Outubro lembra que a cidade foi projetada para cinquenta mil habitantes. Rocha destaca que um monumento histórico, aqui, há de enquadrar nos limites do centro histórico, ou seja, a urbe projetada por Atílio Correia Lima. Fora dele, perde-se o sentido, pois a área expandida para além desses limites é o que temos, entendo eu, como “cidade nova” – no nosso caso, equivale à adição de vários anexos mal planejados, com desencontros de vias e seu conseqüente estrangulamento, exigindo complicados arranjos, por exemplo, da engenharia de tráfego.
Acho pertinente José Mendonça Teles reagir, demonstrar seu estranhamento e até mesmo mágoa, se for o caso, por usarem indevidamente seu nome e sua pessoa.
Passa da hora de se dar nomes aos bois. A goianidade agradece.

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